
Focos de incêndio já ultrapassam mais de 1400% neste ano, se comparado
ao mesmo período de 2023. Mais de 420 mil hectares já foram consumidos pelo
fogo.
Sol
escaldante, horas de locomoção e o ar é fuligem. A temperatura registrada não é
a mesma sentida na pele, que está sob camadas de equipamentos de proteção
contra chamas. Esta é uma pequena descrição da rotina incessante dos
brigadistas que atuam contra os incêndios no Pantanal.
O combate ao
fogo é uma união de esforços entre Corpos de Bombeiros, brigadas vinculadas ao
Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios (PrevFogo) e grupos de
brigadistas de ONGs, como a SOS Pantanal e o Instituto Homem Pantaneiro (IHP).
"Os
brigadistas são heróis contra o fogo. Os funcionários da fazenda são
apaixonados pelo Pantanal, não medem esforços para combater o fogo",
detalha o biólogo e diretor de comunicação da SOS Pantanal.
A seca, a estiagem e os efeitos práticos do El Niño
expuseram o bioma ao fogo antecipadamente, de acordo com especialistas. Com
isso, o trabalho mais intenso dos brigadistas também foi precoce.
O bioma já registra o maior número de queimadas para um
mês de junho desde o começo do monitoramento, em 1998. Os rastros de destruição já são vistos, como jacarés
carbonizados e vegetação completamente esturricada.
Manoel Garcia é um dos sete brigadistas que compõem a Brigada Alto
Pantanal, grupo vinculado à ONG SOS Pantanal. Durante os seis primeiros meses
do ano, o trabalho é de prevenção. Entretanto, neste ano, o combate ao fogo
começou antes.
"Essa é a dificuldade que enfrentamos. Percorremos 1 hora de
caminhonete, imagina se vier à pé. Não conseguimos chegar no combate sem ajuda.
Isso pela distância, pelo combate e as questões do nosso bioma, esse mato alto.
A gente consegue chegar com apoio. Se fosse à pé, demoraríamos 2 dias. Eu acho
que o apoio de trator é essencial", explicou o brigadista Manoel.
Nos últimos dias, Manoel tem atuado no combate próximo à Serra do Amolar
- patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco -, no Paraguai Mirim. Para
chegar na "cabeça do fogo" (ponto crítico dos incêndios), os
brigadistas fazem um percurso distante. Veja o trecho abaixo:
De Corumbá, os brigadistas pegam uma lancha
rápida até o primeiro porto, este percurso dura 3 horas;
Do porto, os trabalhadores partem para sede da fazenda. O trajeto é
feito de caminhonete. Mais 1 hora até o ponto de encontro;
Com uma caminhonete traçada, os trabalhadores até uma área que foi
aberta com trator;
Do último ponto, os brigadistas precisam retirar os equipamentos da
caminhonete e colocá-los no trator, único veículo que consegue chegar por terra
no local das chamas;
Até a cabeça do fogo, os brigadistas enfrentam mais 3 horas sobre o
trator;
Próximo das chamas, os brigadistas começam o trabalho de combate à pé.
"O que
mais chamou minha atenção é a dificuldade para acessar as áreas onde o fogo
está. Chegando para o combate já estamos desgastados, muito cansativo e quente.
Passamos o dia todo combatendo", explica Gustavo Figueirôa.
Mesmo com difícil acesso, o trabalho dos brigadistas tem surtido efeito
prático, como Gustavo relembra. Os profissionais conseguem conter o fogo com
aceiros, faixas de terra abertas pela brigada para separar áreas de mata e
impedir o avanço do fogo
"É difícil e com pouca gente, conseguimos fazer algo. Se vier mais
ajuda, o cenário pode ser mais favorável. Além do combate, fizemos vários
rescaldos. Alguns troncos que queimaram ainda estavam em brasa, foi feito o
rescaldo, resfriado com água. Por mais que já tenha queimado, as brasas podem
queimar por dias. Se vier um vento forte pode levar as brasas para áreas que
não queimaram ainda", contextualiza.
Os brigadistas do Instituto Homem Pantaneiro trabalham dia e noite
contra o fogo. "O combate noturno é diferente. É uma outra visão que você
tem do fogo. Temos um outro combate, é surreal", comenta Sérgio Ramos, que
passou a integrar a equipe neste ano.
Além do fogo, os brigadistas precisam ficar atentos às peculiaridades do
Pantanal. A exposição à animais peçonhentos e os diferentes terrenos fazem com
que o serviço seja mais cauteloso.
"Nós que estamos na linha de frente encontramos muitos animais,
como cobra. Estamos tentando defender o Pantanal, mas correndo riscos também.
Fogo intenso, calor intenso e vento que muda a toda hora. Parece que
quando o fogo começa a pegar, o vento vem junto. A gente fica neste risco por
amor ao Pantanal. Penso que se deixarmos, isso vai acabar".
O PrevFogo, órgão vinculado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), nunca contratou tantos brigadistas para o combate aos
incêndios do Pantanal em Mato Grosso do Sul como neste ano. Ao
todo, serão 145 profissionais atuando contra o fogo no bioma em 2024.
A última liberação para os contratos foi realizada nesta segunda-feira
(10). O Ibama autorizou a contratação de 45 novos brigadistas para atuarem no
combate aos incêndios no Pantanal. A medida foi publicada, nesta segunda-feira
(10), no Diário Oficial da União (DOU).
O responsável pelo PrevFogo em Mato Grosso do Sul, Márcio Yule, comentou
que o maior número de contratados havia sido registrado em 2023, quando 142
brigadistas foram admitidos.
"Nunca
contratamos tanto. A metade dos contratados já começou a trabalhar em 1º de
junho. Os outros 70 brigadistas vão iniciar o trabalho agora em julho e seguem
até o fim de dezembro", destacou Yule em entrevista ao g1.
Por g1 MS
