Agência mantém bandeira que representa uma cobrança adicional de R$
9,492 para cada 100 kWh consumidos; valor não foi reajustado
A Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) anunciou nesta sexta-feira (27) a
manutenção da bandeira vermelha 2, em vigor desde junho, para o mês de
setembro. A decisão ocorre em meio a uma seca histórica na região das
hidrelétricas.
A
bandeira vermelha 2 representa uma cobrança adicional de R$ 9,492 para cada 100
kWh consumidos, e é a mais cara das tarifas extras. A agência não atualizou o
valor da bandeira como esperavam economistas e até mesmo parte do governo.
Nos últimos dias, houve forte debate entre ministérios
sobre o tema. Autoridades e técnicos ligados ao setor elétrico defendem aumento
da bandeira vermelha 2 para cifra acima de R$ 20 — com aumento de cerca de 150%
— mas por um período curto de cerca de três meses. Já a equipe econômica
prefere um reajuste menor da bandeira — próximo de 50%, para valor perto de R$
15 — por vários meses.
O anúncio segue momento em que os principais
reservatórios de água do país estão em nível crítico, devido à falta de chuvas.
A maior
estiagem enfrentada pelo Brasil dos últimos 91 anos.
Esse cenário faz com que o governo
federal recorra a usinas térmicas, com um custo
maior de geração. O valor extra é repassado aos consumidores finais por meio da
bandeira tarifária.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) prevê que o país enfrente
um déficit de energia elétrica em outubro e novembro deste ano caso não adote
“recursos adicionais”, que seriam novas unidades de geração de energia que
impeçam que o consumo ultrapasse a oferta.
“Sem isso ou uma forte economia de energia, há um grande risco de apagão
por causa da degradação no nível de armazenamento dos reservatórios, com a
estiagem”, diz a entidade.
Crise hídrica
O ministro da Economia, Paulo
Guedes, afirmou que conversou com a Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) para segurar o aumento
do preço da bandeira tarifária da conta de luz, em meio à crise hídrica enfrentada.
“A bandeira subiu e ia subir mais. Eu sugeri moderação: sobe um pouco
mais, mas por mais tempo, porque precisamos repor os reservatórios. É melhor
subir um pouco por mais tempo do que subir mais por apenas três meses”, avaliou
em participação no evento da XP Investimentos, nesta quinta-feira (26).
Ainda assim, ele reconheceu os riscos da crise hídrica, mas reforçou ser
apenas mais um desafio a ser enfrentado pelo governo Bolsonaro.
De acordo com o último boletim divulgado pelo ONS,
os reservatórios das Usinas Hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste operam
com apenas 22,7% de sua capacidade de armazenamento. Responsáveis por cerca de
70% da geração hídrica do país, os reservatórios apresentam os níveis mais
baixos dos últimos 91 anos. O volume útil de Furnas está em 18,3% e da usina de
Nova Ponte em 12,2%.
Na comparação com o boletim anterior, o nível de armazenamento dos
reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste recuou 0,2 ponto percentual (p.p). A
maior queda no nível de armazenamento foi registrada pela Região Sul, de 1 p.p.
O subsistema está operando com 30,7% de sua capacidade.
Os reservatórios do Nordeste operam com 50,4% da capacidade de
armazenamento. O volume útil do reservatório da hidrelétrica de Sobradinho está
em 49,14%. Já as usinas da região Norte operam com 72,8% da capacidade. E a
Hidrelétrica de Tucuruí segue com 89,84%.
De
acordo com o relatório do ONS, os reservatórios do Norte devem
terminar o mês de agosto com 72,4%, da capacidade de armazenamento seguido do
Nordeste com 49%, do Sul com 26,8% e do subsistema Sudeste/Centro-Oeste com
21,7%. Segundo o operador, as afluências continuam abaixo da média histórica.
Racionamento
Mesmo do cenário de crise, o governo federal afasta a possibilidade de um
racionamento de energia. O ministro da Minas e Energia, Bento Albuquerque,
voltou a reforçar que, apesar das medidas de incentivo à redução de consumo de
energia elétrica, o governo
não trabalha com a hipótese de racionamento.
“Não trabalhos com hipótese de racionamento e isso tem que ficar claro.
[…] Entendo isso (redução do consumo) como medidas de economia que devem ser
aplicadas sempre, independentemente do momento como esse que vivemos agora”,
argumentou em coletiva de imprensa na última quarta-feira (25).
O secretário de Energia Elétrica do MME, Christiano Vieira da Silva,
esclareceu que para caracterizar um racionamento, é preciso que o programa
preveja um corte do fornecimento de energia para quem não cumprir a meta
estabelecida.
“Não se trata disso (racionamento), de forma alguma. […] É mostrar o que
o governo federal está fazendo para contribuir. […] Alguns (prédios públicos)
poderão reduzir 10%, outros 15%, outros vão conseguir abaixo de 5% e vão
explicar o porque não conseguiram aderir, mas não vai ter corte”, comentou.
*Com informações de Fernando Nakagawa e
Isabelle Resende