Publicado em 22/8/2021 -
Aos 71 anos de idade e quase 50 de carreira, Galvão Bueno experimenta algo praticamente inédito em sua trajetória: passou a ser uma unanimidade.
Não que o principal nome do Esporte da Globo ligue para a aceitação. "Sempre fui criticado. Sempre fui odiado por uma parte e amado por outra. Mas ninguém é obrigado a gostar de mim", diz o narrador em entrevista exclusiva ao Notícias da TV. O principal assunto, sem dúvida, é o seu futuro. Ele esclarece que, agora, não tem mais data para se aposentar. Nunca teve, aliás. Na longa conversa, de uma hora e 30 minutos, Bueno se mostra disposto a falar. E fala muito. Ele interrompeu uma folga de alguns dias por causa da cobertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio para conversar com a reportagem exatamente no dia em que embarcaria para os Estados Unidos --agora está ao lado do filho mais novo, Luca Bueno, 19, que estuda Cinema por lá.
O apresentador revisita por todos os pontos de sua carreira. Sobre o futuro, esclarece que, agora, não tem mais previsão de aposentadoria. Vai viver um dia de cada vez, uma emoção a cada transmissão. Ele espera estar na próxima Olimpíada, em 2024, a ser realizada em Paris, na França. Mas o seu contrato termina ao fim de 2022. Existe Galvão fora da Globo? "A Globo é minha casa e me sinto bem lá", diz.
Entre as polêmicas, o profissional comenta que não tem mais mágoa de Luiz Felipe Scolari. Desde 2014, o técnico do Grêmio não conversa com o narrador por causa de críticas que Bueno fez após Brasil 1 x 7 Alemanha, pela Copa do Mundo dos EUA, em que aparecia aparentemente criticando Pelé nos bastidores. A gravação é motivo de curiosidade até hoje, e muita gente interpreta que ele e o maior jogador de futebol da história são brigados. "Pelé é um grande meu amigo", esclarece. Ao contar a história toda, ele explica que, na verdade, estava defendendo o parceiro.
Galvão passa sua carreira a limpo e projeta um futuro ainda melhor. Fala até de seus piores momentos. Em novembro de 2019, dias antes da final da Libertadores entre Flamengo x River Plate, ele passou mal e teve que realizar um cateterismo em Lima, no Peru, onde iria ocorrer o jogo. Compartilha uma história de impressionar qualquer um sobre o assunto. Acredite: acordou no meio da cirurgia. Segundo ele, nada sério. Teve alta a tempo de conferir a final pela TV do hotel.
Renovado nas redes sociais, garoto-propaganda requisitado e querido pelos jovens --virou meme por sua emoção à flor da pele nos Jogos Olímpicos de Tóquio--, o narrador espera que o atual momento perdure por muitos anos.
"Eu me sinto bem, renovado. Quero ter saúde e continuar fazendo o que amo", diz.
Confira a entrevista exclusiva com Galvão Bueno:
Notícias da TV - Galvão, você está em período de férias, mas sei que está as coisas em ordem, dando uma entrevista… Descanso e férias não existem para você 100%? Galvão Bueno - Não chega a ser férias. Normalmente, depois de um trabalho puxado como uma Olimpíada ou Copa do Mundo, tem sempre uns diazinhos de folga para recolocar a cabeça no lugar (risos). Não gosto de ficar parado mesmo estando em época de descanso. Claro, faço uma viagem com a Desirée, minha mulher, para um lugar que gostamos.
Tentamos desligar um pouquinho do mundo. Mas tem sempre um detalhe, porque tenho meu trabalho na televisão e nos meus negócios… Estou sempre fazendo alguma coisa. Mas eu gosto. Não gosto de ficar parado mesmo estando em época de descanso. Claro, faço uma viagem com a Desirée, minha mulher, para um lugar que gostamos. Tentamos desligar um pouquinho do mundo. Mas tem sempre um detalhe, porque tenho meu trabalho na televisão e nos meus negócios… Estou sempre fazendo alguma coisa. Mas eu gosto. Não gosto de ficar parado.
Notícias da TV - Nesse último ano, você ficou um tempo afastado do trabalho presencial por conta da pandemia. Como foi esse período e a volta? Galvão Bueno - Eu fiquei longe do trabalho presencial. Mas continuei trabalhando todos os dias. A Globo montou na minha casa em Londrina, no Paraná, um estúdio. De lá, eu participava dos programas. Fiz o Bem, Amigos durante todo esse tempo..
Notícias da TV - Foram 14 meses. Galvão Bueno - É, 14 meses sem trabalho presencial. Dividi esse tempo entre minha casa em Londrina e a vinícola no Rio Grande do Sul. Fiquei isolado com Desirée, só nós dois basicamente. Porém, trabalhando sempre. Mas [o trabalho presencial] fazia falta. No dia que voltei, era a decisão da Supercopa do Brasil: Flamengo x Palmeiras..
Eu tinha certeza que, quando abrisse a câmera, quando acendesse a luzinha vermelha na câmera que está no ar, alguma coisa iria acontecer. Foi uma emoção muito forte. É completamente diferente. É como voltar para casa depois de 14 meses. O coração bateu mais forte e mais rápido. Afinal de contas, são muitos anos nessa coisa..
Notícias da TV - Na cobertura da Olimpíada, muito se falou da potência de sua voz. O que aconteceu? Você fez fono na pandemia ou só descansou a voz mesmo? Galvão Bueno - Eu faço um trabalho de fono. Fiz para a Copa do Mundo que foi no Brasil e para a Olimpíada [no Brasil]. A fonoaudióloga da Globo me acompanhou (risos). Na Olimpíada, em 2016, pedi até que ela fosse credenciada para todos os lugares para que pudesse ir comigo.Trabalhávamos todos os dias. Eu não sou mais criança (risos). Estou longe de ser um garoto. A voz muda, realmente. E tive lá alguns probleminhas, há três anos. Então, fiz um trabalho sério..
Nesses últimos dois anos, venho fazendo [acompanhamento] com uma fonoaudióloga de Londrina. Uma coisa moderna. Usamos raio laser, calor, frio, uma série de coisas, e o resultado foi muito bom..
Estou satisfeito. É bom poder gritar um gol tão longo e firme no finalzinho de uma prorrogação, depois de praticamente 120 minutos de jogo, como foi a decisão do clássico Brasil x Espanha, que foi o ouro [olímpico].
Notícias da TV - E logo após a Olimpíada, você anunciou que estará nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, e na Copa do Catar, em 2022. Galvão Bueno - A Copa do Catar já estava dentro do projeto atual. Eu tenho um compromisso com a Globo, e a Globo comigo, que vai até dezembro de 2022. Ficamos de conversar depois sobre o que possa vir a acontecer.
Logo no início da Olimpíada, eu estava ao vivo com alguém... Não sei se alguém [algum atleta] tinha perdido ou foi desclassificado, e eu disse: 'Não liga, não. Não se incomode..
Paris está logo ali'. E isso passou a ser repetido. E Paris está logo ali. O ciclo é menor, são três anos em vez de quatro. E me dei conta de algumas coisas. Paris será minha décima Olimpíada. Essa Copa do Mundo do Catar vai vai ser minha 13ª. Eu amo Olimpíada. O esporte é a grande celebração da vida, e a Olimpíada é a grande celebração do esporte.
E casa que, exatamente em 2024 [na Olimpíada de Paris], vou completar 50 anos de profissão. Não consigo me ver fora de Paris. Como eu vou? Não sei. Espero que seja pela Globo, fazendo meu trabalho, como sempre fiz. Nem que eu tenha que comprar ingresso. Aí já vou começar a comprar ingresso para tudo, vou assistir tudo e me comunicar com meus telespectadores. Só peço a Deus para ter saúde e estar vivo e, assim sendo, lá estarei. Ponto..
Notícias da TV - Estará como espectador ou trabalhando, é isso? Galvão Bueno - Como espectador não. Trabalhando de alguma forma.Quando digo espectador é o seguinte: se eu tiver que criar alguma coisa para me comunicar. Posso muito bem comprar meus ingressos, estar em todos os lugares, assistir tudo e escrever sobre isso.Falar com algum lugar [veículo]. Não sei. Mas espero que seja como venho fazendo nesses últimos 40 anos: na Globo. Acredito que assim será. Mas que estarei lá [em Paris], estarei.
Notícias da TV - Mas corre o risco de não ser pela Globo? Galvão Bueno - Não estou falando disso. Estou dizendo que temos datas, contratos e compromissos. Você tem que renová-los para que as coisas possam continuar como estão. .Creio que tudo correrá normalmente, mas não posso afirmar uma coisa de um compromisso que, teoricamente, termina em dezembro de 2022.
Notícias da TV - Falando um pouco da sua carreira, Galvão, lá em 2014, naquele fatídico 7 x 1 [Alemanha x Brasil], você foi elogiado pela torcida brasileira porque falou o que deveria ser dito. Mas teve o ônus disso. Por causa disso, o Felipão [Luiz Felipe Scolari] cortou relações. Como está essa situação? Vocês voltaram a se falar? Existe isso ainda ou é uma lenda? Galvão Bueno - Acho que hoje está mais no campo da lenda. Terminado o jogo, cabia a mim fazer um editorial. Posso dizer que foi feito a oito mãos, mas cabia a mim dar a nossa opinião naquilo que nós entendíamos que tinha acontecido..a mim dar a nossa opinião naquilo que nós entendíamos que tinha acontecido. E o Felipão, claro, estava machucado com tudo o que aconteceu. É evidente.
Um profissional vencedor, um campeão do mundo com o Brasil, com trabalhos internacionais excepcionais. Um grande vitorioso por quem tenho muito respeito. Nunca tive uma amizade de frequentar a casa um do outro. Mas nos dávamos bem, tínhamos conversas boas em alguns jantares. E algumas divergências, claro.
Confira os destaques da entrevista de Galvão Bueno ao Notícias da TV:.
