As marcas do confinamento são perceptíveis no nosso físico. Parece que envelhecemos uma década em pouco mais de um ano.
Se no ano passado você sentiu
que envelheceu uma década repentinamente, você não está sozinho. Cerca de 2,9
bilhões de pessoas, mais de um terço da população mundial, o acompanham.
Rígido, ombros encolhidos, cabeça afundada. Pernas pesadas. Quadris fechados e
articulações doloridas. Impaciente. Irritável. Vista cansada e pele seca. Temos
um corpo de classe turística de voo transoceânico em uma companhia aérea low
cost. Porém, não fizemos essa viagem, mas outra que nos levou do sofá à
mesa, da mesa à cama, e assim por diante. Com pouco gasto calórico e muita
angústia. Arrastamos um corpo de pandemia que
também é mais pesado –entre um e três quilos a mais– e que há um ano aperta a
mandíbula.
mais pesado –entre um e três quilos a mais– e que há um ano aperta a
mandíbula.
A Sociedade
Espanhola para o Estudo da Obesidade (SEEDO) afirma que
49,8% dos espanhóis ganharam peso até agora na pandemia. Com os rituais
diários de se levantar, vestir, se apressar e usar o transporte público
proscritos, a atividade física foi reduzida ao mínimo. Um ano depois, vestir
algo diferente de um agasalho esportivo é um desafio. O declínio abrupto do que
os especialistas chamam de atividade física incidental –os movimentos para o
funcionamento diário, desde se vestir até descer escadas– virou tudo de cabeça
para baixo. “De um dia para o outro, todos os rituais foram abandonados, o que
significa perder pontos de referência vitais, ficar sem âncoras e entrar em uma
sensação de perda de controle”, diz Carlos María Alcover, professor de
Psicologia Social da Universidade Rey Juan Carlos, que lembra que existe uma
relação direta entre os estados de
ansiedade e a compulsão alimentar.Os subprodutos de meses de confinamento e teletrabalho começam
a chegar aos consultórios de fisioterapeutas, psiquiatras, traumatologistas,
oftalmologistas. Sim, com a pandemia, seu investimento em academia dos últimos
anos desapareceu. Gordura acumulada em locais pouco habituais, rigidez no
pescoço e dores na região lombar por causa das longas horas de teletrabalho em
cadeiras projetadas para sentar-se para jantar durante meia hora. Corpos
ansiosos que administraram a incerteza tensionando cada músculo e passando
noites em claro. “Nós lutamos contra o estresse apertando a mandíbula”, diz a
fisioterapeuta Lida Herraiz, da clínica de quiropraxia Gonzalo Vidal. “Nesta
temporada, quase 80% das pessoas que trato têm esse gesto de tensão acumulada”.
Os que tentaram praticar esporte em casa não se salvam. Os especialistas dizem
que mesmo aqueles que nunca se machucam ficaram lesionados. “Os esportistas que
improvisaram uma academia em casa sofreram um impacto significativo em seu
corpo treinando em pisos não técnicos, também houve muitos principiantes que
decidiram começar a praticar esporte por meio de telas sem a supervisão de um
especialista”, diz Sara Álvarez, fundadora da academia Reto 48, e
acrescenta: “Houve mudanças bruscas no corpo: perdemos um pouco de músculo no caminho
e ganhamos alguns quilos. Ou mais”.
Um estudo da Universidade de San Francisco deu números a esses quilos extras.
De acordo com uma medição realizada com cidadãos norte-americanos entre
fevereiro e junho de 2020, para cada mês de confinamento, ganharam 0,70 quilos
de peso. Os pesquisadores identificaram três causas: redução significativa dos
passos diários, mudanças drásticas nos padrões de vida e aumento de lanches e
de refeições de todo tipo. “O aumento de peso causou desolação em muitas
pessoas”, observa Sara Álvarez. “É a prova da claudicação, de que a vontade se
perdeu, além da força e da capacidade pulmonar. Toda mudança física tem
consequências mentais, e isso foi difícil. A boa notícia é que o corpo tem
memória e com perseverança e esforço é possível voltar ao ponto em que
estávamos antes da pandemia”.
Em um ano submetidos à crueldade de uma câmera frontal mal iluminada
durante longas sessões de Zoom, examinamos nosso rosto como nunca antes e
descobrimos coisas que não sabíamos que estavam ali. Paz Torralba, diretora da
The Beauty Concept, diz que o confinamento também cobrou seu preço. “Maior
flacidez no rosto, envelhecimento prematuro, olheiras e rugas marcadas,
retenção de líquidos e gordura depositada em lugares onde antes não havia”.
A máscara colocou o foco das atenções no olhar, e justo aí vão as preces dos
clientes das consultas dos centros de beleza. Agora se presta mais atenção ao
rosto do que ao corpo, especificamente aos pés de galinha e às rugas da testa.
Pedem-se tratamentos com resultados imediatos. Por exemplo, preenchimentos
dérmicos, toxina botulínica, anti-manchas e fotorrejuvenescimento. E embora as
mulheres sejam maioria, um em cada cinco homens também buscou melhorias estéticas.
A alopecia é o drama deles. A revista The Economist fala sobre o boom da
indústria e cita um aumento de 10% nos procedimentos estéticos nos Estados
Unidos, 20% na França. A SECPRE (Sociedade Espanhola de Cirurgia Plástica,
Reconstrutiva e Estética) fala de um crescimento entre 25% e 30% em alguns
centros.