Enquanto um olho está na crias, o outro está assistindo à sucessão de mentiras e contradições de convidados a depor na comissão da CPI da Covid. Quando uma fonte pede para ligar, já aviso que temos companhia barulhenta. Na gravidez e agora no puerpério [pós-parto], toda entrevista que dei ou conversa que tive, invariavelmente, caía na clássica pergunta: “e como você está conciliando o trabalho com a maternidade?” Não sei responder, pois ainda estou de licença-maternidade. E confesso que acho muito machista essa pergunta. Não creio que André [Rizek], meu marido, tenha sido questionado sobre isso desde que voltou a trabalhar na TV. Pai de primeira viagem, ele concilia paternidade e trabalho aprendendo a equilibrar os pratinhos nessa nossa nova vida. A diferença é que eu ainda não estou conciliando a rotina do trabalho com a maternidade, mas com meus outros lados, como o lado mulher. Nas últimas semanas, no entanto, me vi às voltas com situações que me fizeram refletir e ter a certeza de que se repetirão quando eu voltar a trabalhar. Explico já - antes, um retrospecto: cobri, em Brasília, todas as grandes crises políticas da última década - durante o impeachment de Dilma Rousseff, por exemplo, não consigo me lembrar de ter desligado um final de semana sequer. Assim como nas eleições presidenciais de 2010, 2014 ou 2018. A verdade é que eu não queria e não conseguia: eu gosto de ficar ligada e a notícia não parava. Isso me rendeu, claro, um hábito do qual não me orgulho, mas que trago desde sempre e com o qual me acostumei: dormir pouco.
Acho que, por isso, quando me perguntam, digo que a privação de sono não parece ser meu principal obstáculo nessa fase inicial.
Pelo menos até aqui, tenho para mim que fico mais esgotada e exaurida por causa
das dupla funções com os gêmeos no dia a dia, entre amamentar e acalmá-los o dia todo, por exemplo, o que requer
atenção exclusiva e vigília permanente. É um tal de #olhonolance 24 por 7! E
acho que toda mãe vai concordar comigo: não existe casa mais vigiada no Brasil
do que a de um recém-nascido (aqui, multiplique por 2, rsrs...)

André Rizek e os pequenos, João e Pedro (Foto: Reprodução/ Instagram)
Como passo o dia em casa com a duplinha, praticamente sem sair, por
causa da pandemia, me
vi às voltas acompanhando um outro BBB: a CPI da Covid. E aí entra a
mãe-jornalista: enquanto um olho está na crias, o outro está assistindo à
sucessão de mentiras e contradições de convidados a depor na comissão. Enquanto
assisto, troco zaps com algumas fontes, senadores e ministros do governo para
comentar os lances da CPI. Não adianta: eu sou assim, poderia estar em Marte
que ligaria a Globonews no aplicativo para saber das notícias e também o zap
para falar com as minhas fontes. Já aceitei que sou assim, dói menos kkk. E aí
chegamos ao ponto a que me referi no começo do texto: quando uma fonte pede
para ligar, eu digo que, sim, posso falar, mas atendo e já aviso que temos
companhia barulhenta: “tem trilha sonora aqui agora! Pedro e João na área!”
Já contei
aqui na coluna que estou acostumada a fazer várias coisas ao mesmo tempo.
Analisar a CPI com os meninos no colo também virou uma companhia nesses tempos
- e meu momento de conexão com meu lado jornalista, que tanto amo. Agora
entendo mensagens de mães que me escreviam quando estavam de licença e minha
gravidez nem era um plano, contando que eu fazia companhia a elas na Globonews
quando entrava ao vivo. Nunca me esqueço da mensagem de Amanda Campos, uma mãe
que me contou no Instagram que todo dia estávamos juntas durante a gestação
dela: ela, maternando e bordando; eu, “levando o mundo para dentro da casa
dela”, trabalhando no jornalismo da TV. Te entendo hoje, Amanda!
Gosto da ideia de que meus diferentes
“lados” são complementares: a jornalista, a mãe, a mulher. E, como diz uma
amiga, mãe feliz é bebê feliz. Estar conectada com meu lado jornalista me faz
feliz - e quero mostrar isso para meus amores desde sempre.
Só acho, como a gente brinca aqui em casa, que eles não vão ver a hora de me
despachar para Brasília para poderem colocar no canal Gloob! Enquanto isso,
#meucontrole #minhasregras: liga na CPI dos BBbebês!
Revista Crescer
